16 setembro 2007

Ponta-cabeça

A liberdade é um mal perigosíssimo.

Por isso que as crianças nascem e crescem totalmente protegidas dela: pais, avós, irmãos e primos mais velhos – todos se prontificam naturalmente a participar ativamente da trincheira que impede os pequenos e não tão pequenos assim caiam na sedução deste horror.

A liberdade é corrosiva. No momento em que uma pessoa põe na cabeça que precisa ser livre, nada vai mudar esse pensamento, que se torna uma obsessão. Ela quer, e vai, fazer todo o necessário para consegui-la.

O tempo que cada um leva para chegar nesse estalo varia muito. Às vezes, é tardio demais – a vida já está muito enrolada para permitir mudanças grandiosas na sua configuração. Às vezes, é cedo – antes mesmo de poder ou de os protetores deixarem. Mas há, ainda, os casos de liberdade compulsória. Esses são os piores.

Geralmente motivada por algum fator externo, a liberdade compulsória coloca o sujeito de entranhas abertas para o mundo, mesmo que ele não quisesse nem estivesse preparado. E aí, amigo, se vira: papai, mamãe, vovó, titio, amigo do peito, ninguém vai resolver nada na sua vida – no máximo dar uma mãozinha.

Não bastasse só isso, ainda tem uma seqüela freqüente e extremamente nociva: não saber o que fazer com a liberdade. Depois de passar pelos perrengues – não só financeiros – iniciais, a pessoa finalmente pode realizar tudo o que quiser. Mas não realiza nada.

Não tem idéia do que fazer com todo aquele mundo de possibilidades, aquele tempo livre, aquela folga financeira. Tudo o que meio mundo mais quer, e ela tem. E não serve para nada.

Será que um dia vai servir?

Sortudos mesmo são aqueles que não têm liberdade.


And my heart, it don't beat, it don't beat the way it used to
And my eyes, they don't see you no more
And my lips, they don't kiss, they don't kiss the way they used to
And my eyes don't recognize you no more

2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Concordo plenamente. Difícil alguém dar valor para um bem adquirido de forma compulsória, ainda que seja a liberdade.

Gostei muito do blog, Paulão!

Off-topic: Você já assistiu a "Ligeiramente Grávidos"? Me lembrei muito de você, hehehe!

1:56 PM  
Blogger Lilian disse...

Ligeiramente grávidos é sensacional, mas pq lembrar do Paulo?? vc tem um filho e eu não sei?? hehe

ah, e eu não sei o q fazer com a liberdade... to com medo

e esta música, esta parte dessa música é td... ai, até doi...

10:46 PM  

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