11 fevereiro 2008

Aviso

Acordou com sono.

Mais uma noite de sono ralo, sonhou com ela e despertou suando três vezes. Chorou uma, duas, três, quatro vezes. Engoliu, mas logo chorou a quinta. Céus, como ela está longe.

Levantou rápido e se esqueceu da espreguiçada que torna os dias enfrentáveis. Queria chegar logo no banheiro para secar as lágrimas de saudade que o assolam diariamente há anos. Ou seriam meses? Ou dias?

Não havia calças limpas. Pensou em ir trabalhar de bermuda, afinal nem gosta daquele emprego mesmo, tanto faz se reclamarem ou se o demitirem. Problema deles. Acabou colocando a calça que usou no último sábado para beber as memórias em um bar hypezinho da Vila Madalena. Cheiro de cigarro. Foda-se.

Ao menos chegou quase na hora no trabalho. E, ainda por cima, seus dez minutos de atraso foram amansados por um acontecimento maior – um cliente-chave renovou a conta. Festa na empresa, e ele esboça um sorriso ao vislumbrar, lá longe, um aumento de salário. Passado o furor de alguns segundos, logo volta a sentir-se meio, e a introspecção toma conta outra vez.

Ele já a apagou de sua vida, fechando todas as portas que um dia escancarou para ela entrar. Ah, se arrependimento matasse... quanta dor se seguiu. Será que valeu a pena? Hoje, com certeza digo que não valeu. Na época... nem lembro mais. Então tá decidido, não valeu.

Ele já a apagou, mas toda hora lembra do seu aniversário de 5 anos, quando era ainda mais frango e não conseguia sequer apagar as porras das velinhas direito. Apagava, elas acendiam. Apagava, acendia, apagava, acendia...

O dia não chegou nem à metade, ele quer dormir. Quer chorar mais uma noite. Quem sabe exorciza de vez aquelas marcas que não o deixam seguir em frente de peito aberto. Marcas que carrega nas olheiras e nos ombros pesados mesmo antes dos 30. Tudo por culpa daquela separação dos infernos.

Fecha os olhos com força, muita força, torce para que tudo aquilo acabe, que a maldita mulher suma de seu pensamento, que o gosto do seu beijo desapareça, que os carinhos dela se desintegrem, que sua voz com sotaque mineiro exploda, que ela morra. Faz força sozinho, parado, tentando encostar a pálpebra na boca para ver se fecha o olho de vez e nunca mais precisa encarar aquele mundo em que vive, aquele mundo sem ela. Ele sua, sua como um porco, sente calor, sente vontade de chorar, de espernear, de correr, de quebrar tudo, de gritar AAAAAAAAAAAH
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“Acorde, neném, calma. Acho que você teve um pesadelo, uai”.



Forget what we're told
Before we get too old
Show me a garden that's bursting into life