26 outubro 2007

Ciclo

Não o conheci muito bem, mas sei que foi um homem forte. Personalidade de sobra, muita fibra. Um jeito duro, mas preocupado; carinhoso à sua maneira.

Não me contaram muito sobre sua vida, mas sei que mudou de cidades muitas vezes. Buscava o melhor para seus filhos e suas finanças.

Sei que era um negociante de sangue. Não dá para ter certeza, mas acho que teve mais dores de cabeça do que prazeres por causa do dinheiro.

Não convivi muito com ele, mas ele era determinado, nunca se abalava. Só uma ou duas vezes. Ou três.

Sei que ele era uma pessoa ausente, distante, especialmente nos últimos tempos. Viveu os últimos capítulos de sua vida do jeito que queria: sozinho.

No finalzinho, viveu do jeito que os que mais gostavam dele queriam. Não sei se os dois jeitos se conciliavam, mas sei que não importa mais.

Entre filhos, netos e bisnetos, deixou pelo menos três dezenas de herdeiros do auto-denominado sangue fenício. Alguns muito parecidos com ele. Outros, nada a ver.

Eu, eu não sei. Só sei que a vida está passando.

Deixei que tudo desaparecesse
Perto do fim, não pude mais encontrar
O amor ainda estava lá

09 outubro 2007

Mãozinha

Minha primeira reação foi xingar. “Por que esse IDIOTA parou o carro metade na calçada e metade na pista? Olha o caos que o FILHO DA PUTA ta causando”.

Então eu percebi que o pisca-alerta aceso no Logos CL relativamente antigo porcamente estacionado no canto direito da rua Alvarenga não era motivado por uma despedida da namorada ou um celular tocando: o carro tinha quebrado.

Engoli o xingo, desci da bike e ofereci ajuda. O cara, que devia ter a minha idade mas vestia roupa social e até gravata, pediu para que eu desse partida enquanto ele mexia no motor. Ok.

Depois de umas cinco tentativas, ele mexendo em cantos diversos do maquinário do carro, o Logos pegou. Ele me explicou que o gás, combustível do veículo, tinha congelado (!).

Sei lá se isso pode acontecer; mas que eu fiquei contente de ajudar o brother, mesmo que tenha sido com um simples movimento de punho pra ligar o carro, isso fiquei.

Move your car, move your car,

I think it's best for you right now to move your car.
Move your car, move your car,
you have to get on with your life and do it now.

05 outubro 2007

Uma imagem vale mais...


And on that teacher's training day
We wrote our names on every train
Laughed at the people off to work
So monochrome and so lukewarm

04 outubro 2007

In amores


Conselhos sentimentais sempre são meio autobiográficos. A gente tenta ajudar quem nos pede - ou mesmo quem não pediu - através de nossas experiências e aprendizados. Afinal, são argumentos irrefutáveis, já que eu vivi e pronto, e que podem, de fato, ajudar.

Claro que o que serviu pra mim não serve necessariamente para você. Mas às vezes bate uma identidade impressionante, e a coisa mais idiota que você diz é o que faz sentido para aquela pessoa. A teoria complexa e mirabolante, por sua vez, entrou por um ouvido e saiu pelo outro.

Por isso que o filme "Hitch, Conselheiro Amoroso", comédia romântica do Will Smith que pasou na TV esses dias, é uma farsa. O filme é legal, divertido, tem algumas ótimas cenas, como a mulher tentando desamassar a cara depois de acordar, ou o gordinho dançando. Mas não daria pra comprar esses conselhos. As pessoas mudam muito e em muito pouco tempo para permitir que se comercialize um jeito de entendê-las e dar o que querem.

Mas acho que é justamente por essa razão que gosto de psicologia. Você nunca sabe como o outro vai receber aquilo que você tentou comunicar, mas, mesmo assim, você pode conseguir o resultado final desejado: seja ajudar o amigo pobre coitado a sair da merda, seja conquistar aquela pretendida.

Now you're back onto change the world
Now you're back and I say : go, girl!
Now you're back and you do just fine
So don't resign
Cause after rainy days, the sun will shine