19 agosto 2008

Pancinha

Tanto se falou antes da Olimpíada da pança do Ronaldinho – o do sul, não o extra-oficialmente gordo dos joelhos complicados. Sua falta de forma, o longo período sem partidas oficiais, a crise na saída do Barcelona, a dúvida se poderia voltar a mostrar a genialidade que o tornou o melhor do mundo para a Fifa. Mas Dunga o bancou no grupo dos 18 que brigavam pelo ouro inédito.

Até aí, eu concordei com o ex-volante troncudo e grosso (mas vencedor). Era um cenário propício para uma bela volta por cima. Fora que um Ronaldinho gordo vale mais do que 90% dos jogadores profissionais do mundo.

Aí começaram os jogos, e deu pra ver sua falta de ritmo. A pancinha atrapalhou seu rendimento e, embora sua técnica permaneça brilhante, sua agilidade, velocidade e vigor estavam comprometidos. Até aí, de novo tudo bem. Primeiro porque tenho compaixão pela pancinha, ainda mais com a pancinha que adquiri nas minhas férias. Depois pois, apesar de ele não tirar a camisa após cada partida talvez para não mostrar a barriga, acredito que ele melhorou muito e estava em condições jogar.

Só que o Dunga botou ele mal posicionado, muito recuado para sua realidade física. Ele não está em condições de carregar a bola em velocidade para o campo de ataque, como fazia em 2005/06 no Barça. Do jeito que está hoje, ele só pode dar passes precisos, limpar lances em espaços curtos. Correria não rola. Mas jogando recuado, e para servir um único atacante, não precisa ser gênio pra ver que era óbvio que não daria certo.

Ainda por cima, o Thiago Neves entrou em campo e mostrou algo que eu duvidada: ele está entre os 10% do mundo melhores do que um Ronaldinho gordito e sua pança. Entrou bem, com fome de bola em todo jogo, destilando técnica, agilidade e passes precisos, além de saber bater bolas paradas infinitamente melhor que o ex-gremista camisa 10. Que, aliás, nunca soube bater falta – dizer que ele bate bem é uma grande convenção Global.

Mas depois de Ronaldinho, contra a Nova Zelândia, fazer um gol de falta que foi um baita frango do goleiro, e um gol de pênalti, começou a ladainha de “Ronaldinho recuperou a alegria de jogar” e “Ronaldinho está voltando aos bons tempos”. Duh.

Baseado nessa atuação, Dunga manteve o pança em campo como titular em todas partidas, ignorando a superioridade do Thiago Neves. E ele continuou lá, fazendo seu melhor, mas que era simplesmente insuficiente naquele esquema tático de um atacante, com um meio-campo inteiro fora de posição (Anderson volante? Lucas de primeiro volante? Socorro).

É claro que o Brasil não perdeu da Argentina por causa da barriga do Ronaldinho, mas sim por causa do esquema do Dunga – que, se era pra convocar o Ronaldinho (o que, repito, eu também faria), montasse um esquema que permitisse seu jogo nas atuais condições físicas.

Mas é curioso que o sonho do ouro olímpico caiu por terra justamente por causa de outra pança: a do argentino magrinho Kun Aguero, que mandou a bola de umbigo pras redes brasileiras no primeiro gol da Argentina e abriu a porteira do bagunçado e insosso Brasil pra tomar o chocolate que tomou. Merecido, infelizmente.



Eu juro que torci pra seleção. Mas, agora, a Nigéria é o Brasil nas Olimpíadas.